Nosso amor foi carnaval

A gente se encontrou em uma das esquinas principais de outros carnavais. Havia uma multidão e então não havia mais – só via você. Teu par de olhos ainda ao longe se agarrou aos meus, e o mar de gente percebendo a sintonia abriu espaço pra gente ancorar. Entre passos incertos por vias inevitáveis, cumprimos nosso destino perpendicular. Bastou alguns segundos para descobrir que há vidas nos procurávamos.

O toque de tuas mãos foi frio, e feito trio eletrizou cada avenida do meu corpo. Tua língua quente balbuciou palavras doces, e no meio de tanto barulho, escutei-as com minha própria boca. Nosso suor já era um só, pulando sob poros que dançavam aos pares. Na pele da alma, cada sensação agia como se estivesse em casa, todas aninhadas debaixo de mesmo tato. Aquele instante virou tatuagem em meu coração.

A música, as pessoas, as horas – tudo parecia ter se tornado pequeno demais, multidão era o que eu carregava no peito. Nessa festa de amor folião, tivemos em cada noite o que tantos não encontram numa vida. Quantos anos ficamos parados ali? Feito efeito do êxtase, a felicidade parecia ter chegado ao fim. Entendemos que às vezes o sol nasce, pro amor se por. Vinha chegando a quarta-feira, e o glitter já começava a desbotar até virar cinzas. E então foi a hora de a gente se desencontrar naquela mesma esquina.

Neste ano não teve carnaval, talvez assim seja pelo resto da vida.

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