Reencontro


Há um canto de aconchego esperando tua chegada em hora não anunciada, arquitetado sob medida para o teu repousar. Há um canto de alegria adormecido na garganta, aguardando o teu abrir de portas para cheio de alvoroço despertar. Hei de começar assoviando baixinho, pra te guiar pelo caminho do meu adentrar. Chegarás feito passarinho que acabara de deixar o ninho, desconhecendo que somente no risco do voo é possível se encontrar.

Deixarei escancaradas as portas e janelas, não haverá uma só frecha que te ameace encarcerar. Garanto-te vento pra soprar o ar de assustada, e em pouco se darás por acostumada com o excesso de luz por cá a se derramar. Teus olhos varrerão todo o espaço, e descobrirás que aqui cabem todos os passos que pedirem o teu esparramar. Cabem teus causos e calos, cabem tuas flores e talos, cabem tuas dores e abalos, cabe tudo o que te fizeram crer que era excesso ou errado antes do teu chegar.

E então te reconheço: chegaste. Dou-te as boas-vindas a tu mesma. Enfim, voltaste para ti. E também para mim, eu que sou tu e estava a te esperar. Às vezes o regresso se confunde com a própria descoberta. Apresento-me, é chegada a hora de nos conhecer. Adentrar em si é aventura de desassossego, mas não há outro lugar – não há mais ninguém – onde possamos nos encontrar. Não há alternativa, pois, senão nos aventurar. Repousa por hoje no aconchego do meu canto. Me embala pra dormir na voz do teu canto. Nada como estar em casa. Nada como habitar livremente em si mesma.

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