Sobre asas e sonhos

sobreasasesonhosUm par de asas e um coração cheio de desejos. A vida lhe fez assim: dona de uma coleção de sonhos e dessa mania besta de liberdade.

Costuma navegar por mares onde sua âncora possa estacar em algum porto e, no descanso de uma noite, repousar ali a vida inteira. Feito marinheiro aprendiz, de feitos pouco confiáveis, faz de conta que esqueceu os mapas e as bússolas. Só ao leme, sorri de esguelha ao segurar o destino em suas próprias mãos.

A aventura é o seu fascínio. Gosta do diferente, do colorido, do quente, do impulso, do arrepio, da surpresa, do risco, do ‘por que não?’. Quer se permitir, sentir, ser… Tocar o sabor dos infinitivos que vagam pelo infinito semeando descobertas.

As letras são a sua libido. Casou-se com o Jornalismo, é amante dos contos e versos, e em madrugadas de pouco sono, seduzida por qualquer lápis e papel. Leva essa vida promíscua, com tantas diversões e deveres, pesares e prazeres, e todas as rimas e paronomásias que ela permitir.

E sendo o amor radical, diz já ter ouvido falar em prefixações que poderiam sozinhas alimentar uma gramática: o superamor, o desamor, o reamor, o não-amor… São construções que a sintaxe não explica, mas o coração, silencioso, compreende.

Sua crença é em si mesma. Seus livros sagrados são os de Clarice. Sua fé (ainda) é nas pessoas.

Tem olhos pequenos que não lhe impedem de ver o quão grandes são as outras pequenas coisas ao seu redor.  Reconhece quando a eternidade está a um passo de abraçar momentos tão efêmeros, mesmo sabendo que tantas juras de ‘pra sempre’ um dia chegam ao fim.

Quando preciso, faz uma faxina em sua casa, em seu corpo, em sua vida. E então se desfaz de tudo o que não tem mais valor: objetos velhos, sentimentos opacos, pessoas. Troca os móveis de lugar, as fotografias do mural, muda de planos e de opinião. Abre as janelas e deixa o vento da renovação entrar, abre o coração para outros suspiros, abre os braços e o melhor sorriso para o que der e vier.

Talvez por isso digam por aí que ela tem alma de borboleta. Com cores que rimam entre si e asas que abraçam o novo. Cultivando um amor tonto pelo vento e tanta fome de céu.

Afinal, a vida lhe fez mesmo assim: dona de uma coleção de sonhos e dessa mania besta de liberdade.

 

Foto: Iemai.

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