Diálogos com Seu Moço II

Sabe, seu moço, dizem que na vida tudo passa. É por isso que essa coisa de pra sempre sempre me embaraça. Quem escolhe quando o terno irá tornar-se eterno? Acho mesmo que somos escolhidos às cegas, seu moço. Um amor, um amigo, um abrigo – se a vida não for dura e lhes fizer durar, seja no tempo de uma prece ou até quando a própria vida perece, direi que houve tempo para caber a eternidade. Acreditas, seu moço, nessa verdade? Pois me parece que tudo o que marca também traduz. Seja o desenho na pele ou o arrepio no pelo. Ou quando escrevo um verso e depois desconverso, porque sei que mesmo desenhado a lápis, não há vento, tempo ou intento que possa apagá-lo. E quando sinto ainda algo como o toque de sinos que vêm para anunciar as sinas que nos entregamos de bom grado. Dessas que fazem do tempo uma marca, do terno um império. E do eterno, um infindável mistério. Está palpitando: eu ouço.

Palpita numa feliz melodia: escuta também, seu moço.

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