Diálogos com Seu Moço IV

Acordei meio sem norte, sem saber se abria os olhos para o dia ou para a morte. Não vi se era outubro ou outono, sonho ou sono, café mal passado ou forte. Não entendi se estava em meu apartamento ou num quarto no interior, se era envolvida por um lençol desbotado ou por um amor. Que horas, que dia, que diabos de despertador?

Acordei meio sem sorte, tropecei num copo d’água, me cortei numa velha mágoa e tive que fazer dos cacos o meu suporte. Esqueci o horário do ônibus, atropelei os compromissos, atrasei o relógio e perdi os sentidos. Não consegui encontrar as roupas e a rotina, já não sabia se era mulher ou menina, perdi as pontas e os porquês.

Abri os olhos ainda no escuro com uma saudade imensa daquele futuro tão fácil de ser desenhado à mão. Deparei-me com a falta de luz e o excesso de lama. E enfileirados na cabeceira da minha cama, um sonho que se cala, um vazio que traduz e um coração que reclama. Sacudindo as cortinas, o tempo presente ainda corre contra a minha vontade vã. Onde eu guardei o amanhã? Levantei-me com esforço. A madrugada devolveu silêncio. Mas eu estou falando é com o senhor, seu moço.

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