Talvez eu te queira um pouco mais

janelaTalvez eu tenha ficado ansioso ao varrer as notificações do celular e inventado desculpas para mim mesmo, por não ousar admitir que estava à procura do teu nome. Quem sabe o meu riso há muito tempo não tenha andado tão solto como ele fica quando converso contigo. Ainda não sei onde me prendi – na tua mania de usar referências cinematográficas para decidir quem está certo em uma discussão, ou na inteligência do teu sarcasmo. Tampouco sei onde me perdi – na sintonia do nosso papo, no desejo do meu passo ou no desenho dos teus lábios.

Talvez eu finalmente te convide para ir à minha casa. Os lençóis do hotel têm ficado mais frios a cada vez que a gente retorna. Quem sabe você se interesse pela coleção de pôsteres estampada na parede da sala. Posso ainda abrir espaço para um comentário sarcástico sobre a minha mobília. Já te ouço sussurrar que o roteiro da minha decoração precisa de uma nova direção de fotografia. Eu vou rir e te fotografar com as minhas retinas. Te eternizar, bem ali, emoldurada por minhas cortinas. E todas as manhãs me demorar um pouco mais após o toque do despertador, só pra rever essa cena.

Talvez eu te queira depois que amanheça. E te peça para se despir dessa pressa de se vestir a tempo do metrô das 7h40. Quem sabe eu te conte que o sol do teu sorriso tem me aquecido nessas noites de inverno. E o calor do teu hálito vem fazendo o verão nascer mais cedo aqui no meu peito. Talvez – e apenas talvez – eu confesse que eu te quero por todas as estações. E então a estação do meu abraço será a única para a qual você não poderá se atrasar.

Talvez eu erre um pouco a mão e me demore demais entrelaçado à tua. O sol ainda estará nascendo, e as primeiras luzes do dia refletirão a tua nudez. Um passarinho cantará lá fora, e aqui dentro eu estarei fazendo ninho. E então o teu corpo será o meu novo caminho pra casa. Quem sabe em tuas curvas eu desembarque todo o querer que jurei nunca mais entregar a alguém. E em teus poros eu plante mudas de amor. Quem sabe a gente se muda e, por aí e por acaso, faça lar um no outro.

Talvez eu te queira um pouco mais do que eu realmente demonstre. Talvez seja meio que por medo ou covardia. Talvez seja pra vida inteira.

Comments

comments

Leave a Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *