Diálogos com Seu Moço VIII

A gente tem pressa, mas se cansa no primeiro passo. A gente desconversa, mas prefere apertar o nó do que refazer o laço. A gente se esforça mais em pronunciar uma prece porque prefere o caminho mais fácil. A gente faz promessa e nada muda, a gente por vezes esquece por que luta, a gente perde tempo reclamando que o tempo não corre ao nosso favor. Meu senhor, a gente envelhece e não cresce. Insistimos em sarar a dor abrindo outra ferida, em tentar nova cor de uma aquarela falida, e em falar alto porque nos disseram que forte é aquele que grita. Em dias de fraqueza, a minha voz me evita. Se refugia em meu peito e de lá faz perguntas que não são respondidas. Então, só me deixa aqui hoje cultivando um punhado de palavra esvaída. Jejuando sílabas, engolindo interrogação e digerindo essa impressão de que a vida está toda invertida. Vou cerrar os lábios, fechar os olhos e fazer de conta que não te ouço. Não se preocupe. Silêncio faz bem pra minh’alma, Seu Moço.

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