Diálogos com Seu Moço V

Diga, seu moço: qual foi a última vez em que sentiu em teus ombros o peso do mundo? E esteve perto de mergulhar num caos profundo, agarrou-se a naus sem rumo, e no raso da consciência descobriu tua própria força. Ouça: todo homem um dia já teve medo, precisou enfrentá-lo em segredo e engolir o risco que separa a água da cicuta. Escuta: é mesmo verdade o que dizem sobre o mais difícil tempo – contam que a moça bonita anda com sorriso cinzento, e as asas que costumavam brincar com o vento agora jazem dormentes. Mas, sente: não há caminho sem dor, câimbra e suor, mas se a vontade for maior, nenhum deles fará com que pare. Repare: se o que quer é o mundo inteiro, então aprende a suportar o seu peso, e com ele segue forasteiro até tuas pernas darem um nó.

Olha só: se eu estiver falando bobagem, seu moço, não precisa escutar mais. É que tem dias que eu acordo achando que a vida é melhor do que o que contam nos jornais.

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